Monday, August 8, 2011

LAMA - O irromper de vontades


No final de 2010 nasceu a associação LAMA – Laboratório de Artes e Média do Algarve. Uma associação formada por actores, artistas plásticos, gente ligada ao cinema, à fotografia e ao jornalismo. Naturais do Algarve, foram para Lisboa investir na sua formação superior e regressaram agora querendo devolver à sua região o seu talento e a sua criatividade.
LAMA (Laboratório de Artes e Media do Algarve), assume-se como um projecto de desenvolvimento artístico com especial enfoque na área do Teatro. Dentro dos seus objectivos estão as criações de diversas dramaturgias desde as adaptações de obras, a textos dramáticos e criações originais. O texto será a ferramenta impulsionadora do espectáculo, quando se decidir que ele existe, sendo que, a palavra não será a principal forma de comunicação cénica. A associação LAMA na sua actividade além das criações teatrais, trabalhará também as áreas da fotografia, cinema e música, com apoio a acções de formação, debates, exposições, ciclos, festivais, residências e tertúlias, tornando-a multidisciplinar. Acentua a educação não-formal e formal, sendo que a primeira terá um papel importante na população destinatária que será a comunidade no seu geral.
No passado dia 12 de Fevereiro esta associação mostrou no Centro de Artes Perfomativas do Algarve o espectáculo Brilharetes, de António Tarantino com João de Brito e Tiago Nogueira e a colaboração de Jorge Silva Melo no processo de encenação.
O texto fala de um ex-professor de instrução primária, educado num seminário e com ligações ao partido comunista, que começou a viver nas ruas. A cena começa com essa personagem no meio de sacos e roupas e com o seu parceiro de esquemas e urinar descontraidamente para a rua. Brilharetes é então a história de dois sem abrigo que conversam e discutem sobre o próximo golpe para sacarem dinheiro e um incauto homem abastado. Ensaia o discurso em que argumenta apelando à piedade, fazendo uso da sua educação no seminário para impôr alguma compaixão na má consciência burguesa. A construção das personagens está feita com rigor. A personagem do Brilharete misto dos marginais de Beckett, Almodovar, e Iñárritu mostra uma queda abissal nas franjas de uma vivência que roça o inverosímil. A outra personagem, Cavagna, é o contraponto do ex-professor. Rude, desembaraçado, portador de uma verborreia profícua em calão de rua. O texto, talvez porque construído depois desse monumento dramatúrgico que foi Stabat Matter não teve o fogo e o brilho deste último. É vítima de uma construção circular, repetitiva, onde as ideias se repetem sem mostrar nada de novo. A própria encenação, que remete os actores para um canto da cena, concentrando o olhar do espectador num único foco, não ajuda a uma outra redescoberta do sub-texto e da terceira personagem que, à semelhança de Godot, é nomeado inúmeras vezes sem nunca aparecer. Brilharetes morre, quiçá de subnutrição, infecções múltiplas, ou simplesmente desalento. O comunismo e as lutas de classes já não são o que se julgou ser. A vida foi perdendo o seu brilho fátuo adquirindo de forma cruel e presente o seu sentido efémero. Com Brilharetes morre a esperança num modo de vida mais puro e genuíno, vendendo o corpo mas não o espírito. Brilharetes morre e deixa o parceiro refém das palavras certas que tão adequadamente utilizava. Tiago Nogueira, a grande personagem deste diálogo, assume neste trabalho a difícil responsabilidade de ser uma das grandes esperanças no trabalho de actor no Algarve. João de Brito, embora tenha defendido uma personagem com maior dinamismo, enfada o público com a linguagem inundada de palavrões que, após o primeiro momento de incómodo, deixam de fazer sentido.
Um trabalho a reter na memória, que cria no espectador algarvio a expectativa de uma lufada de ar fresco com novos textos e novos actores com formação superior na área.

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