Wednesday, December 12, 2007

Um texto coreografado


Évora foi palco da 5ª edição dos Encontros de Teatro Ibérico: um evento anual que se inscreveu já no calendário teatral do Inverno eborense, mas cuja dimensão cultural ultrapassa largamente os limites sócio-geográficos da urbe alentejana. De facto, os Encontros de Teatro Ibérico, nascidos em Évora em 2003 (a partir de uma iniciativa conjunta que se mantém entre o Cendrev e o IITM – Instituto Internacional del Teatro del Mediteráneo), são os únicos do seu género na península, ao reunirem espectáculos teatrais dos dois países, realizados com dramaturgia portuguesa e/ou espanhola de criação recente, constituindo um lugar de encontro e de intercâmbio entre as realidades artísticas dos dois países vizinhos, no que à criação teatral e dramatúrgica diz respeito.
Este ano uma das prestações mais interessantes do encontro deveu-se ao grupo Escola de Mulheres, que trabalhou o texto de Teresa Rita Lopes Coisas de Mulheres… e de Homens! Uma peça composta por vários monodiálogos, como Teresa Rita Lopes os define. Reconstruções de momentos um dia qualquer que nasce carregado de projectos que percorrem uma lógica do absurdo e que conduzem normalmente ao desastre ou a novos rumos para a vida. Encenado por Marta Lapa, o espectáculo adoptou o curioso nome Imagina que descalcei o sapato e agora não o consigo enfiar. Esta encenação teve a virtude de mostrar um texto coreografado, interpretado por Isabel Ribas, Marina Albuquerque e Meredith Kitchen. Num espaço de arena as três actrizes jogam as personagens umas com as outras com uma frescura e uma vivaciade pouco usuais. De facto, Teresa Rita Lopes apresenta-se como uma autora próxima, contemporânea, que se presta a uma criação coreográfica de textos que falam do quotidiano. A peça faz a reconstrução de momentos de um dia que nasce carregado de projectos que percorrem uma lógica do absurdo e que conduzem normalmente ao desastre ou a novos rumos para a vida. Da ansiedade no dia do casamento, da descoberta dos primeiros cabelos brancos, da necessidade da hipocondria, da decepção motivada por umas lentes de contacto, dos desgostos amorosos que acabam a ser cantados em ritmo de samba. O espectáculo foi suportado pela música original de João Lucas e pelo desenho de luz de Manuela Jorge.
Surpreendente e arrojado, este espectáculo conseguiu ultrapassar a monótona visão portuguesa e mostrar as coisas de cada um de nós, como o amor, o desamor, as desilusões da vida, de um modo interessante e novo.

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