Thursday, August 16, 2007

Uma dança de brincar


O serviço educativo do Teatro das Figuras, em Faro, tem proporcionado aos mais novos programas adequados às suas ansiedades. Uma delas é a necessidade de brincar com os pais. Para responder a essa legítima urgência o Teatro das Figuras produziu a oficina “Uma dança de brincar”, uma ideia de Ana Borges Gonçalo Torres e Sérgio Rebelo que alia a dança e a música à expressão dramática e às artes plásticas.
Quem se prepara para ir ao teatro num Domingo de manhã? Esta questão foi respondida por seis famílias que, munidas de fatos de treino e muita vontade de experimentar se deslocaram até ao teatro das Figuras dia 22 às 11h. à sua espera tinham os formadores Ana Borges, Gonçalo Torres e Sérgio Rebelo, que se propuseram proporcionar àquelas famílias um dia perfeito. O repto era que pais e filhos se envolvessem numa actividade diferente que envolvia a dança, a música, a expressão dramática e a expressão plástica. Nesta oficina, destinada exclusivamente a famílias com crianças dos sete aos nove anos, Ana Borges, a bailarina, e Gonçalo Torres, o músico, levaram as famílias a redescobrirem o seu elo de ligação através do contacto com a obra Álbum de Família, com textos de Jorge Listopad e desenhos de José de Guimarães. Esse álbum de família tinha uma apresentação diferente dos habituais de álbuns de retratos e questionava também o vulgar sentido de família. Família, neste caso, poderia ser não só o núcleo mais restrito, mas todos aqueles que tiveram um papel na construção da nossa memória. À mãe, ao pai, aos irmãos, juntam-se, não só os tios e os primos, como também os vizinhos, os amigos, o senhor do café, o carteiro, e outras personagens que, pela sua estranheza, fazem parte do nosso imaginário.
Depois das famílias se terem apresentado umas às outras, depois de se terem apercebido do seu espaço próprio, depois de terem explorado vários movimentos induzidos pela sonoplastia de Gonçalo Torres, pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos foram explorar as características das personagens descritas no “álbum de família”, no sentido de reavivarem os sentidos para a construção do seu álbum familiar no sentido dos autores da obra em questão. Assim, através da dança e da sonoplastia, sempre com o suporte das imagens e do texto da obra, as crianças e os pais brincaram ao faz de conta, redescobrindo afectos e familiares habitualmente ausentes. Depois de uma apropriação do espaço cénico, as famílias passaram a interpretar uma personagem através do uso de roupas habitualmente guardadas na “arca do sótão das nossas memórias”. Essa arca permitiu que se apresentassem os membros da família ausentes, tais como a “Avó Rosa, que tinha 82 anos mas usava vestidos coloridos porque pensava ter 20”, o Simão, grande inventor que fazia construções com tudo o que apanhava, o Henrique que queria ser jogador de basquet e, apesar de ser grande, julgava-se pequeno, e tantos outros que se deixaram apropriar pelos afectos do sentido comum que começava a nascer.
Depois de criadas as personagens os participantes da oficina foram comer sobre o assunto num piquenique colectivo para se voltarem a dedicar ao álbum na parte da tarde, desta vez munidos de materiais recicláveis. Nas salas polivalentes do Solar do Capitão-Mor foi criada uma oficina de expressão plástica, orientada por Sérgio Rebelo, para dar corpo e consistência aos movimentos trabalhados na parte da manhã. Cada membro da família criou nesta oficina o retrato tridimensional que correspondia ao membro da família que tinha sido dançado, representado, assumido pelo corpo na parte da manhã. Pais e filhos empenharam-se na criação dos seus retratos, inspirados na linha conceptual de José de Guimarães, concebidos com materiais recicláveis, culminado tudo na apresentação conjunta das obras-primas dos afectos.
Uma actividade para as famílias, planificada ao pormenor, que resultou pela entrega dos adultos, pela descoberta das crianças e pelo profissionalismo dos formadores.
Para além da entrega que se pôde sentir entre pais e filhos na construção de todas as propostas, verificou-se uma partilha de afectos com o resto do grupo. Mais do que um apuramento de técnicas na dança, ou na expressão plástica, cumpriu-se a partilha de um presente que os pais deram aos seus filhos: ”finalmente, este Domingo, eu pude ter a minha mãe, o meu pai, só para mim! E que bem que soube! No próximo Domingo também podemos vir…?”

No comments: