Friday, August 17, 2007

Serviço educativo do Teatro das Figuras: Uma verdadeira educação de públicos

O Serviço educativo do Teatro das Figuras continua a apostar na programação de qualidade para os sectores da Infância e Juventude. Esse investimento essencial na formação e educação de públicos trouxe-nos em Julho o produzido pelo VATE (Vamos Apanhar o Teatro) “O Livro em Branco”, uma história maravilhosa, inserida no livro de Jorge Bucay Contos para Pensar, sobre a capacidade de se retirar prazer da vida.
Encenado por Patrícia Amaral, este conto com prováveis raízes sul-americanas, normalmente conhecido como “O Procurador”, é interpretado por Déborah Benveniste, que ajuda o espectador a mergulhar na magia dos objectos.
Déborah Benveniste é uma manipuladora de objectos exímia. Das suas mãos os candeeiros, os lençóis, os objectos mais inusitados ganham vida e transformam-se em personagens. O espectáculo, que começa com os pés da actriz, vai ganhando corpo e forma através de toda a corporalidade investida na encenação. O corpo transforma-se na própria dramaturgia, portadora da mensagem principal para as crianças.
Como é que um conto para crianças pode começar num cemitério? Depende da genialidade do argumento e da capacidade de o pôr em cena. Neste caso houve um casamento feliz entre a história do Livro em Branco, o conhecimento profundo no trabalho pedagógico com crianças de Patrícia Amaral e o saber fazer de Déborah Benveniste. Esta confluência de saberes transformou uma simples arca com alguns objecto escondidos num dos espectáculos mais conseguidos para o público infantil. As crianças vibram e percebem que na vida temos de assinalar e guardar os momentos de prazer intenso para que nos possamos despedir da nossa existência com a sensação de dever cumprido e o reconhecimento dos demais. Um cemitério onde aparentemente só tinham morrido crianças era, afinal, o último cofre dos momentos de prazer intenso.
Para além de uma mensagem positiva da vida este espectáculo motiva, não propriamente à leitura, mas à escrita. A uma escrita que ultrapassa o simples diário. Uma escrita que implica escolhas, preparando as crianças para aquilo que irá ser determinante na sua vida: as suas opções. Quais os momentos de toda a minha vida que irei seleccionar para ficarem registados? Os que me deram intenso prazer. Então vamos fazer por encher um livro inteiro de coisas boas para que depois, no fim, se lembrem de nós com saudade e admiração. E nos consigam agradecer por isso.
Esta primeira encenação de Patrícia Amaral para o VATE mostra uma sensibilidade diferente, que resultou em pleno com as crianças, e que se espera seja a linha de continuidade para os próximos projectos com os mais novos. Através deste espectáculo pode ver-se como com uma boa encenação, uma boa actriz e meia dúzia de adereços se consegue construir todo um imaginário que fica presente na memória das crianças. E a urgência com que ficam, depois do espectáculo, de comprar um livro em branco para construírem a sua própria história foi bem a prova de que esta produção está no caminho certo. A não perder no autocarro do sonho, para crianças de todas as idades.

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