Friday, August 17, 2007

À conversa com Olga Roriz


A paixão, sempre a paixão promete ser a mola impulsionadora do mais recente espectáculo de Olga Roriz que terá estreia absoluta amanhã no teatro municipal de Faro. Uma co-produção Companhia Olga Roriz com o Teatro Municipal de Faro e a Fundação das Descobertas que poderá ser vista dias 14 e 15 no Teatro Municipal de Faro e 28 e 29 no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.

O amor ao canto do bar vestido de negro. Um título grande para um conceito simples: a paixão. Inspirado num quadro romântico de dois apaixonados que irradiavam felicidade quando foram vistos num bar trajando de negro, o título dá o mote para a celebração do estado de paixão. Há três casais na peça que nos irão mostrar vários capítulos do estado de paixão, umas vezes a dois, outras em grupo, outras de forma solitária. Às vezes há trocas, mas que não se enquadram no universo da traição. Cumplicidades de corpos que se querem cúmplices também de um cenários ousado e imponente. Olga Roriz aceita que o cenário lhe foi sendo imposto pela força que transmite, embora ao princípio estivesse renitente em aceitá-lo. Talvez aqui tenhamos um exemplo de uma paixão que se vai conquistando pelo sentido que as coisas, a certa altura tomam, no processo de criação.
As cenas desenvolvem-se em ambientes diferentes que vão incrementando capítulos do que pode ser esse estado de paixão. Mas apesar da euforia inerente ao estado de paixão, Olga Roriz considera que este é um espectáculo tranquilo que fala sobre as diferentes etapas da vida. No entanto, para se sentir a vida, Olga Roriz diz ter de se sentir influenciada pelo momento que atravessa e pelos seus bailarinos, pelos seus problemas, pelas suas maneiras de enfrentar a vida. “Os bailarinos são pessoas que têm os seus próprios problemas, que têm contas para pagar, que têm filhos, e não podem fazer um corte com a sua vida antes de virem trabalhar. Esse património é riquíssimo e contribui muito para a formação da obra”. Quanto ao processo de criação, adianta que a fase de investigação e escrita começou em Dezembro, não tendo dado neste espectáculo muito espaço para a improvisação dos seus bailarinos. Já tinha dezanove cenas onde sabia com bastante realidade o que delas queria extrair. Mas para a coreógrafa, a vertente forte deste espectáculo é o cenário. Desta vez o corpo partilha com o cenário um jogo de mostrar e esconder muito especial. Os menires, impondo-se no espaço vazio criam todo um universo de sentidos que torna cúmplice a ambiência poética, que persiste nos seus trabalhos.
Relativamente ao momento que a dança atravessa neste momento, Olga Roriz admite que se vive um período de descoberta aliado a uma grande instabilidade, o que não é muito conveniente para a criação. Quanto à sua própria criação, divide-se entre os seus solos e a direcção dos seus bailarinos. Com Pedro e Inês, espectáculo criado para o teatro Camões em 2003, houve quem dissesse já ter saudades dessa Olga Roriz que criava para os seus bailarinos a partir do seu corpo, como se de uma partilha mais física se tratasse. Neste espectáculo não foi esse o processo seguido, sendo a partilha mais emocional e racional. No entanto, não se pense que o negro do título confere alguma obscuridade ao espectáculo. “Este é um espectáculo em que no fim apetece vestir um vestido bonito e ir dançar, não é um espectáculo que retire a esperança de vida, antes pelo contrário.”
Com intervalo ao fim da primeira hora, o espectáculo continua por mais quarenta minutos. Com músicas que fazem parte da nossa vida, ajudadas pelo cenário de Pedro Santiago Cal, a companhia de Olga Roriz promete dar mais uma achega ao inesgotável tema da paixão.
Destaque: Este é um espectáculo em que no fim apetece vestir um vestido bonito e ir dançar

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